Fábula do ovo e da vida
As águas de março fecharam o verão e os primeiros
dias de abril trazem, com a Páscoa, promessa de vida para o nosso coração...
E o símbolo mais conhecido (e desejado) de tudo
isso é um ovo de chocolate. E todo ovo traz, em si, uma promessa de vida.
Tem ovo que promete vida de passarinho, outros são
promessa de pintinhos, lagartixas, cobras e até ornitorrincos! Mesmo os
mamíferos, como o leão ou o Homem, nascem de um ovo, ou melhor, de uma célula
ovo, que vem a ser o resultado do encontro do óvulo com o espermatozoide.
Tem ovo de todos os tamanhos e vida de todos os
jeitos. Mas o que será que nasce de um ovo de Páscoa? Isso eu não sabia e fui
perguntar à dona Galinha:
- Ô, dona Galinha, a senhora que é especialista em
ovo me diga uma coisa; o que é que nasce de um ovo de Páscoa?
Dona Galinha, incomodada com o sucesso das
coelhinhas nesses tempos pascais, cacarejou:
-Não nasce nada, meu filho. É ovo gorado, oco,
falsificado. Maluquice dessas coelhas de hoje em dia. Aliás, eu nunca ouvi
dizer que coelha soubesse botar um ovo e chocar...
Enquanto ela reclamava, apareceu o galo, nervoso,
de crista arrepiada, parecendo um Neymar, e eu saí depressinha do terreiro. Fui
andando por aqui e por ali até que vi a dona Coruja numa árvore.
- Ô, dona Coruja, me diga, por favor, a senhora
sabe o que é que nasce de um ovo de Páscoa?
Dona Coruja, do alto do galho mais alto e da sua
sabedoria, pensou, pensou, esbugalhou os olhos e disse:
- É claro que nascem corujinhas lindas. Corujas,
como todo mundo sabe, são os animais mais bonitos do mundo…
Deixei Dona Coruja se elogiando pra lá e segui meu
caminho. E no meu caminho encontrei uma cobra a quem fui logo perguntando:
- Dona Cobra, me diga, se possível for, o que é que
nasce de um ovo de Páscoa?
E a Dona Cobra sibilou apressada:
- Cobrinhas, ora essa!
Desisti e fui pra casa dormir chocando meus
pensamentos. Choquei/sonhei a noite inteira e no dia seguinte nasceu na minha
cabeça a ideia de procurar dona Coelha. Claro, ela devia saber tudo sobre ovos
de Páscoa!
Fui andando por aqui e por ali, até que encontrei
sua toca, que mais parecia um formigueiro, cheia de coelhos pulando de lá pra
cá, todos fazendo ovos de Páscoa. Aquilo, sim, era a verdadeira “fantástica
fábrica de chocolate”...
Dona Coelha mexia um tacho no fogão de lenha,
cantando com sua imensa família:
- “Chocolate, chocolate, chocolate, eu só quero
chocolate”...
Eu já cheguei junto dela falando:
- Desculpe, Dona Coelha, eu andei por aí
perguntando o que nasce de um ovo de Páscoa e ninguém soube me responder
direito, até agora. Dona Galinha disse que não nascia nada. Dona Coruja disse
que nasciam corujinhas. Dona Cobra, cobrinhas. Fiquei mais confuso ainda e não
encontrei solução para esse mistério...
Dona Coelha esticou as orelhas, sorriu sábios
sorrisos e disse:
- Cada pessoa põe no seu ovo de Páscoa um pouquinho
de sua vida. Por isso ovo de coruja vira coruja, ovo de cobra vira cobra e ovo
de gente vira gente.
Assim, é preciso tomar muito carinho, cuidado e ter
muita responsabilidade na hora de fazer os ovos de Páscoa.
Eu continuava sem entender nada. E Dona Coelha
continuou explicando:
- O que a pessoa coloca dentro do ovo de Páscoa
nasce. Se você coloca carinho, nasce carinho, se põe felicidade, alegria,
nascem sorrisos, se você coloca amor e amizade, nasce um amigo, nasce um irmão…
Dona Coelha recomeçou a cantar com sua família e eu
saí de lá pensando no que queria colocar dentro dos meus ovos de Páscoa.
Cheguei em casa, peguei papel, canetinhas coloridas e fiz belos cartões de
Páscoa. Neles, fui escrevendo tudo o que estava no meu coração para cada uma
das pessoas que queria presentear. Escrevia e imaginava a alegria de quem
iria recebê-los. E, feliz, pressentia que ia nascer muito carinho, alegria e
amor, em mim e à minha volta.
Enquanto fazia os cartões e pensava nas pessoas,
parecia que meu coração era um ninho de ovos de Páscoa que brilhavam, cheios de
vida nova.
Adaptação livre
Texto de autor desconhecido
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