Se os pais pudessem, com certeza protegeriam os filhos de todos os males e dores do mundo. No entanto, sabemos que isso não é possível e que coisas ruins, infelizmente, acontecem. Mas o que fazer quando há uma tragédia perto? Como explicar para uma criança o que é um desastre natural, o que é um temporal e por qual motivo algumas pessoas morrem? Entrevistamos a psicopedagoga Larissa Fonseca para que você saiba o quanto mostrar e como explicar esse tipo de acontecimento, que, às vezes, até os adultos têm dificuldade de entender
Por Manuela Macagnan
Guarda Chuva Vermelho |
1. Como os pais devem lidar com a exposição das crianças às informações sobre tragédias? O quanto deixar que assistam à televisão?
Larissa Fonseca: O acesso às informações hoje em dia vem de muitas fontes e nem sempre é possível controlar tudo o que chega às crianças. Todos os dias, notícias e informações que elas ainda não têm condições de compreender pelo contexto em que estão inseridas são jogadas sobre elas. Muitas vezes, são as próprias crianças que nos pedem essas informações. Portanto, devemos, sim, falar sobre os acontecimentos, mas temos que ter muito cuidado com os detalhes – muitas vezes sensacionalistas – que impressionam os pequenos. O bom senso vale na hora de passar a informação ou permitir que a criança assista a algum programa de televisão. O importante é não desinformar seu filho para que ele não se torne alienado, ao mesmo tempo em que seu envolvimento com as notícias seja feito de modo apropriado para sua idade e maturidade. Os noticiários normalmente são dirigidos ao público adulto e é recomendável poupar as crianças pequenas do noticiário destes dias
2. O melhor é falar a verdade? Explicar, por exemplo, que os desabamentos pelo excesso de chuva causaram a morte de centenas de pessoas?
Larissa Fonseca: Que bom seria se pudéssemos poupar nossos filhos desse clima de tragédia e sofrimento, mas isso é impossível. Ocultar a origem das preocupações adultas pode parecer uma atitude menos prejudicial, no entanto, isso é inviável, dado que o universo infantil já recebe a rede de informações públicas. Além disso, as crianças se comunicam diretamente com as emoções de seus pais e dos adultos que dela cuidam, e assim elas sentem e percebem quando há alguma tensão no ar. Diante do inevitável, o melhor a fazer é sempre falar a verdade, explicando os acontecimentos. Use palavras e recursos que a auxiliarão a nomear as sensações desconfortáveis que ela vai experimentar ao longo da vida, como a perda, a tristeza, o medo, a angústia e a morte. A complexidade da explicação deverá estar de acordo com a maturidade da criança. Para as mais novas, vale uma conversa rápida e menos detalhada. Com os mais velhos e indagadores, é muito construtivo dialogar, explicar, questionar suas percepções a respeito do que têm escutado. Ter disponibilidade para ouvir o que as crianças têm a dizer é uma ótima fonte para guiar suas intervenções, pois você partirá daquilo que ela está sentindo e assimilando da situação.
3. O que fazer se a criança disser que está com medo de morrer?
Larissa Fonseca: Apesar de fazer parte do desenvolvimento humano, a morte ainda constitui um tabu em nossa sociedade e nós, adultos, passamos os dias procurando mecanismos que a afastem de nosso cotidiano. O medo da morte não é inato. Ele é absorvido desde a infância de acordo com as experiências de luto vividas por cada um. O que a criança teme, na realidade, não é tanto a morte, mas o processo de morrer, de lidar com a sua impotência diante do desconhecido. A infância é, sem dúvida, a melhor fase para aprender a lidar com esses sentimentos inevitáveis em nossa trajetória de vida.
Se a criança disser que está com medo de morrer, converse com ela perguntando o que sabe sobre a morte, o que pensa a respeito disso, quais são os sentimentos que ela identifica, auxilie-a a nomeá-los, esclareça suas angústias em relação ao assunto, explique verdadeiramente a morte, procurando desmitificar o tabu criado sobre o tema. Aponte caminhos reais para que consigam lidar com a perda e o luto e, o mais importante, seja verdadeira, respeitando as limitações de compreensão de cada idade.
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